Cães de serviço antecipam crises e salvam vidas de pessoas com diabetes

Uma rotina louca de trabalho que faz com que você perca a noção do tempo e, até, se esqueça de comer ou tomar um remédio. Embora pareça algo sem importância, para quem tem diabetes, isso pode representar uma situação de risco.

E, nesse cenário, toda estratégia é válida para se proteger de possíveis crises.

"Me descuidei da medicação e ele detectou que minha glicemia estava descontrolada. Ele começou a chamar minha atenção de uma forma mais insistente que o normal. Caso eu estivesse sozinha, com certeza as consequências seriam mais graves", conta a gerente financeira Raphaelle Almada Pinheiro, que tem diabetes tipo 1.

O "ele" no relato de Raphaelle poderia ser uma nova tecnologia desenvolvida para monitorar pessoas com diabetes, mas, na verdade, é algo bem mais simples: um cão de serviço.

Isso porque o faro, capaz de identificar o perigo a longas distâncias, também pode salvar quem está por perto. Quando treinados, cães conseguem detectar alterações na glicemia de pessoas com diabetes e evitar crises de hiperglicemia.

Os sinais ainda podem ser imperceptíveis aos humanos, mas os animais percebem mudanças mínimas no odor do dono com diabetes e alertam antes mesmo que os sintomas apareçam.

"Em geral, eles conseguem identificar alterações químicas que interferem no odor exalado pelo tutor de 15 a 20 minutos antes do início dos sintomas", detalha Renata Boragini Rodrigues, treinadora certificada do Service Dog Brasil.

Mas se engana quem pensa que essa habilidade é natural de qualquer cachorro.

Os chamados cães de alerta médico ou cães de serviço passam por meses de treinamento para aprender a associar o odor característico de uma crise e também como avisar o tutor ao identificar um problema.

Além do diabetes, os cães também podem ser treinados para lidar com problemas como a epilepsia, estresse pós-traumático, autismo, entre outros.

Sinais de crise e os alertas

Assim como os cães treinados para ajudar em resgates de pessoas desaparecidas em desastres, é por meio do olfato que os cães de alerta conseguem perceber que há algo de errado com seu dono.

Bruno Benetti Torres, chefe do Departamento de medicina Veterinária da Universidade Federal de Goiás, explica que, durante episódios de desequilíbrio glicêmico, o corpo humano sofre alterações metabólicas que resultam na liberação de compostos orgânicos voláteis específicos.

"Essas mudanças criam uma "assinatura de odor" química distinta, imperceptível aos humanos, mas altamente detectável pelos cães. O cão utiliza seu olfato extraordinariamente apurado, que é milhares de vezes mais sensível que o humano", explica Torres.

Isso faz com que os cães consigam perceber oscilações antes mesmo que os níveis de glicose atinjam patamares alarmantes em dispositivos de monitoramento ou antes mesmos dos sintomas.

Renata Boragini Rodrigues, fundadora e treinadora certificada do Service Dog Brasil, ONG focada no treinamento de cães de alerta, explica que os animais detectam a mudança no odor exalado pelo tutor através do suor, da saliva ou do hálito.

"À medida que o cão identifica essas alterações, ele começa a chamar a atenção do tutor e das pessoas que o cercam", comenta a treinadora.

Os sinais dados pelos cães ao dono, nesses casos, incluem:

Tocar o tutor com a pauta ou com o focinho;

Enviar um sinal específico, como segurar determinado brinquedo na boca;

Sentar na frente do tutor, o olhando e rosnando;

E, em último caso, latir incessantemente, indicando uma situação de risco, que pode incluir convulsões ou coma.

E esses alertas são ainda mais importantes justamente em situações de risco, como quando há cetoacidose diabética.

A cetoacidose diabética é uma complicação aguda do diabetes que acontece principalmente no diabetes tipo 1. Ela ocorre quando os níveis de açúcar no sangue do paciente ficam muito altos, assim como a quantidade de cetonas no sangue. Os sintomas incluem sede intensa, hálito com cheiro de fruta madura, cansaço, dor abdominal e vômitos.

Cachorro em treinamento para se tornar um cão de serviço. — Foto: Arquivo pessoal

Fonte: G1

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